quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Educando com qualidade


2. – A Educação


Nota Introdutória
São os próprios portugueses os primeiros a criticar a nossa sociedade. De facto, a mentalidade que impera a nível nacional possui vários defeitos. Somos demasiado permissivos para com a corrupção, somos conformistas em relação àquilo que se passa à nossa volta, temos pouca criatividade e pouco espírito empreendedor, somos desorganizados e preocupamo-nos mais em fazer inveja ao vizinho do que em nos esforçarmos para melhorar verdadeiramente a nossa vida.
Estes factos notam-se ainda mais quando olhamos para outros países europeus – o Reino Unido, a França, a Alemanha e, em especial, a Espanha – e reparamos no quão melhor eles são do que nós a nível económico, cultural, tecnológico, etc. Todavia, para além do atraso estrutural do nosso país, não nos podemos esquecer de outro factor: Portugal tem menos população do que esses países. Provavelmente a proporção de grandes empreendedores, cientistas e artistas é basicamente igual em todos estes países, mas como o nosso é mais pequeno (e, consequentemente, tem menos população), tem obrigatoriamente menos pessoas que se destaquem.
Mas esta situação pode ser facilmente alterada. Até agora, o Estado tem promovido uma população em quantidade. Aquilo que proponho é que se procure ter uma população em qualidade. Para tal, será necessário adoptar uma abordagem completamente inovadora a nível da educação.
Costuma-se dizer que a missão dos pais é “educar” os filhos. Contudo, aquilo que eles fazem na maior parte das vezes assemelha-se mais a “tomar conta” do que a “educar” os filhos. Estão mais preocupados com as roupas e os brinquedos do bebé do que na educação. Porque educar não é apenas cuidar das crianças, é também incutir-lhes valores e ajudá-los a desenvolver capacidades.
Ter uma boa educação na infância pode trazer grandes vantagens. Darei três breves exemplos. O primeiro é a questão da matemática. Para muitos, um quebra-cabeças terrível, para outros, algo extremamente fácil de compreender e até interessante. Outro exemplo é a música. Há quem tenha de investir vários anos num conservatório para conseguir tocar o que está numa pauta, enquanto que outros aprendem a tocar um instrumento sozinhos e até são capazes de reproduzir uma música só por ouvido. O último exemplo é o das crianças bilingues. Os filhos dos emigrantes de França que regressaram a Portugal, por exemplo, que falam tão bem português como francês, isto sem terem tido de passar anos e anos a estudar línguas.
Para os primeiros dois exemplos, poder-se-ia dizer que são “dons”, mas o último caso demonstra que estas capacidades acima da média podem ser aprendidas por qualquer ser humano, desde que sejam desenvolvidas desde os primeiros anos de vida. Contudo, dado que nem todos os pais têm o tempo, as competências e os recursos para desenvolver estas capacidades nos filhos, cabe ao Estado ajudá-los a cumprir essa missão.
Talvez haja quem possa achar que não é necessário garantir que todas as crianças tenham desenvolvido estas capacidades. Porém, numa época em que se fala tanto em discriminação, não será que o facto de alguns possuírem estas qualidades e outros não leva também à discriminação, à desigualdade, além de poder limitar e condicionar a vida das pessoas? Além disso, como referi acima, se Portugal aspira a se tornar num grande país, é imperativo apostar em aumentar a qualidade (e não necessariamente a quantidade) da população.




Propostas

1- Criar uma rede pública de creches e jardins-de-infância, especializada no desenvolvimento das capacidades das crianças.
Estes estabelecimentos públicos iriam acolher crianças dos 2 aos 5 anos de idade. O ingresso seria gratuito e obrigatório, embora os pais tivessem o direito de escolher se colocariam os seus filhos no sistema público ou no privado. Contudo, ambos os sistemas teriam de alcançar determinados objectivos a nível do desenvolvimento das crianças. Essas metas – bem como os métodos para as atingir com sucesso – deverão ser delineadas por especialistas em pedagogia e em psicologia infantil, fundamentadas nos estudos já existentes sobre esta matéria, e testadas em creches e jardins-de-infância nacionais. Seria pretendido o desenvolvimento do raciocínio lógico/matemático, da comunicação, das faculdades a nível gráfico e musical, e das capacidades físicas, por exemplo. Valores como a criatividade, o espírito crítico, a frontalidade, a responsabilidade, o empenho, o altruísmo e a tolerância deverão também ser promovidos. As crianças deverão ter também actividades ao ar livre e junto da natureza, sempre que as condições meteorológicas assim o permitirem. Finalmente, deverá apostar-se no bilinguismo, para tal assegurando que as crianças têm desde o início contacto frequente com a língua inglesa (inclusivamente, algumas das educadoras de infância deveriam ser anglófonas ou, pelo menos, terem conhecimentos de inglês). Este processo de desenvolvimento das capacidades deverá prosseguir e ser consolidado no ensino básico e preparatório.





2- Complementar o ensino preparatório com disciplinas de cariz mais prático e utilitário.
Do 7º ao 9º ano de escolaridade, os alunos deverão aprender conteúdos úteis para a sua vida adulta, como saber de que modo funcionam os impostos, a Segurança Social, os tribunais, a polícia, e as instituições políticas; aprender as bases de áreas até agora esquecidas neste ciclo do ensino, como, por exemplo, economia, contabilidade, ou gestão; adoptar uma perspectiva mais prática e motivante no ensino das disciplinas já existentes (por exemplo, em matemática, em vez de os alunos resolverem exercícios mais “abstractos”, deveriam estudar problemas práticos – embora, como é óbvio, relativamente simples – de engenharia, economia, ou estatística; em português, deveria ensinar-se a redigir cartas, actas, currículos, textos argumentativos, artigos jornalísticos, relatórios, e textos de escrita criativa, e dedicar-se menos tempos à gramática, linguística e sintáctica); deverão também ser ensinadas competências práticas básicas de saúde (prevenção de doenças, primeiros socorros, etc.), de culinária, e de mecânica/canalização/electricidade. Todavia, estas alterações não deverão traduzir-se num aumento das horas de aulas.



3- Cancelar o programa e-escolinhas.
Ficará mais barato ao Estado – e terá a mesma eficácia – equipar as escolas com computadores suficientes para todas as crianças do que oferecer um portátil “Magalhães” a todos os alunos que passarem pelo ensino básico português. Além disso, apesar de a informática ser, sem sombra de dúvida, uma área de grande importância, é preferível que os alunos se dediquem mais a ela no ensino preparatório do que no ensino básico.




4- Incluir aulas de condução no currículo do ensino secundário.
As escolas secundárias deveriam, através de um concurso público organizado por uma entidade independente (ver o capítulo dedicado à Justiça), criar acordos com uma das escolas de condução locais, de modo a conseguirem preços mais baratos para os seus alunos, e permitindo-lhes ter as aulas de código e de condução coordenadas com as restantes aulas (para que não tenham que faltar às actividades lectivas). Esta modalidade de aulas de condução seria algo facultativo para os alunos, como é óbvio, e seria exclusivo para os estudantes do 12º ano de escolaridade.




5- Aos casais sem filhos que estão dependentes do rendimento mínimo, em vez de lhes prometer abono de família, pagar-lhes para não terem filhos enquanto não estabilizarem a sua vida.
Como já foi referido na nota introdutória, Portugal precisa de uma população em qualidade, e não forçosamente em quantidade. O objectivo principal de se fomentar o aumento da natalidade é o de amparar as contas da Segurança Social. Contudo, os casais que recebem mais apoios sociais são aqueles que estão mais dependentes do Estado, e que têm graves problemas psicológicos, de integração social, ou a nível económico. Aqui há um erro grave: os filhos destas pessoas irão ter uma educação deficiente (muitos acabam por ter de ser institucionalizados) e, provavelmente, vão tornar-se também eles dependentes de apoios do Estado. Assim, em vez de a Segurança Social ficar mais desafogada, o que acontece é que se está a ajudar a transmitir a miséria para a geração seguinte, correndo-se ainda o risco de a proporção de dependentes do rendimento mínimo e afins aumentar. Assim, seria preferível dar-lhes dinheiro para não terem filhos, do que para trazerem ao mundo crianças que provavelmente vão passar dificuldades e sofrer traumas que lhes irão condicionar o resto da vida.

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