quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A aposta na Ciência


4. – O Ensino Superior


Nota Introdutória
O principal problema do Ensino Superior português é a falta de empregabilidade dos jovens licenciados. Esta questão tem várias causas. Uma é o nosso fraco tecido empresarial e a debilidade da economia portuguesa, tema este que será abordado no capítulo seguinte. Outra das causas é o facto de se manterem abertos vários cursos que manifestamente não têm saídas profissionais. Outra das razões é o facto deste ensino estar ainda demasiadamente virado para a parte teórica, nem sempre transmitindo aos alunos as competências e conhecimentos práticos que as empresas procuram.
Entretanto, várias são actualmente as áreas da ciência e tecnologia onde estão a ser descobertas novas fronteiras, à espera de serem exploradas. A robótica e automatização, as energias renováveis, a medicina genética e as células estaminais. Estas são disciplinas do saber que estão ainda “virgens”, e onde há muito para pesquisar e desenvolver. Se Portugal realizar bons investimentos, souber delinear bem as metas, e coordenar eficientemente os esforços dos nossos investigadores científicos e das nossas universidades, poderá garantir um lugar privilegiado na economia do futuro, para além de trazer enorme prestígio aos portugueses.




Propostas


1- Encerramento de cursos com baixa empregabilidade.
Cursos como sociologia, filosofia, história ou educação, onde se verifique que não há saídas profissionais, deverão ser encerrados.



2- Converter os politécnicos em universidades.
Não faz sentido haver uma diferenciação entre universidades e politécnicos, ainda por cima quando há situações em que ambas as instituições oferecem os mesmos cursos. Esta distinção leva apenas a que os politécnicos tenham menos prestígio do que as universidades, ainda que possam ter melhor qualidade. A única excepção a esta medida seria o Instituto Superior Técnico de Lisboa, que possui já grande prestígio e história e que, por isso, não faria sentido receber o título de universidade.



3- Criação de tecnopólos.
Estes tecnopólos – cujo número total deveria estar limitado a dois ou três – iriam seguir o modelo norte-americano. Seriam baseados nas universidades portuguesas mais avançadas tecnologicamente, iriam possuir instalações bem equipadas onde os investigadores pudessem realizar experiências e desenvolver nova tecnologia. Esta investigação seria promovida directamente pelo Estado, que a financiaria (ver o ponto 6). Contudo, estes tecnopólos serviriam também para albergar as empresas privadas – sejam elas criadas pelos próprios cientistas/universitários ou não –, as quais, além de terem um acesso mais próximo à investigação científica/tecnológica e aos investigadores/recém-licenciados, poderiam utilizar os laboratórios e restantes instalações, teriam benefícios a nível fiscal e menos obrigações sociais com os seus empregados (para evitar a precariedade, seria o Estado o responsável pelas protecções sociais destes, em vez de serem as empresas).




4- Todos os cursos deverão oferecer estágios para todos os alunos.
Estes estágios seriam praticados, de preferência, em empresas e entidades situadas na mesma região da universidade. Note-se que, se não for possível arranjar estágios para todos os alunos, isso significa que o curso poderá estar a formar mais licenciados do que a sociedade necessita.




5- Uniformização dos cursos a nível nacional, e ensino dos conteúdos práticos que as empresas procuram.
Em Portugal existem vários cursos pouco específicos, cujos objectivos são ambíguos e que parecem até repetidos, embora com nomes e algumas cadeiras diferentes. Por exemplo, há vários cursos de gestão de empresas, embora alguns tenham nomes e disciplinas ligeiramente diferentes. O mesmo ocorre com áreas como as línguas estrangeiras, ou o turismo, por exemplo. Há também situações em que não dá para distinguir entre cursos de gestão e cursos de economia. Os objectivos desta uniformização a nível nacional seria impedir que surgissem novos cursos que, na prática, fossem cópias de cursos já existentes, e permitir avaliar e controlar melhor a qualidade de ensino de cada instituição (se cada curso tiver as mesmas cadeiras a nível nacional, isto torna-se mais fácil). Contudo, para permitir que cada universidade se possa diferenciar das outras, estes planos curriculares uniformes dariam liberdade para a introdução de duas ou três cadeiras que seriam exclusivas daquela instituição. Além disso, os planos curriculares de todos os cursos deveriam de ser revistos em conjunto com as entidades e empresas que poderão empregar os alunos, para que seja garantido que as disciplinas ensinadas correspondem às capacidades práticas procuradas pelos futuros empregadores.





6- Criação de um plano de investigação nas áreas da robótica, células estaminais e energias renováveis.
O Estado deverá realizar investimentos nas universidades (e nos tecnopólos referidos no ponto 3) e, além de criar instalações com equipamento avançado, oferecer boas condições aos cientistas e investigadores, para os fixar em Portugal (evitando a “fuga de cérebros”) e, se possível, aliciar os melhores especialistas disponíveis a nível internacional.



Uma área que merece uma atenção especial por parte do Estado é a da robótica. Mas o tipo de investigação realizado nesta área não deverá ser deixado ao acaso. As faculdades portuguesas não se podem contentar em construir robots que “jogam futebol” para exibir nas feiras de ciência; é necessário delinear metas objectivas e procurar criar aplicações práticas para esta tecnologia – e não brinquedos feitos para “inglês ver” em exposições. Nomeadamente, os cientistas deste sector tecnológico deverão ter como missão conceber máquinas que substituam os seres humanos em funções como a agricultura, a construção civil, ou a indústria – em especial as fábricas de têxteis. Outras áreas da economia onde a automatização traria grandes proveitos são o transporte de mercadorias (poder-se-ia desenvolver uma máquina que, trabalhando em conjunto com um GPS, substituísse o condutor) e a distribuição (engenhos que substituam os funcionários das caixas de supermercado, por exemplo). Deverão também ser promovidas todas as tecnologias que facilitem a realização das tarefas domésticas, pois isso permitiria aos cidadãos libertarem tempo que poderá ser empregue noutras actividades. Por exemplo, automatizar as cantinas e lavandarias, de modo a tornar os seus preços mais acessíveis.




Outra área de grande importância é a medicina genética e o estudo das células estaminais. Como sabe, estas células podem transformar-se em células de qualquer parte do nosso corpo. Ora, sabendo que a consequência da maior parte das doenças é a destruição de partes do corpo humano, isto significa que, em teoria, as células estaminais podem anular os efeitos da maioria das doenças. Os investigadores dos laboratórios portugueses deveriam dividir-se em vários ramos: por exemplo, um seria dedicado a estudar como transformar as células estaminais em partes do sistema nervoso e do cérebro (com o objectivo de curar paralisias, cegueira, surdez, e doenças como Alzheimer e Parkinson), outro centrar-se-ia em transformar células estaminais em órgãos (para que não faltem órgãos para fazer transplantes, e também para curar doenças como a diabetes), outro ramo tentaria usar as células estaminais para reconstruir membros inteiros, e até poderiam haver cientistas dedicados a desenvolver técnicas para impedir o envelhecimento (este último seria mais virado para a parte estética do que para a medicinal; porém, tornar-se-ia provavelmente numa área muito lucrativa).



Outra área de grande importância – e na qual o Estado português já começou a investir – é a das energias renováveis. Contudo, além de prosseguir com o desenvolvimento das energias eólica, hidráulica e solar, seria proveitoso apostar também na energia das ondas e marés (até porque se trata de um país costeiro) e no estudo de tecnologia que permita alcançar uma maior eficácia energética – a nível dos electrodomésticos, dos veículos, e até dos próprios edifícios.



Finalmente, seria importante que toda esta tecnologia fosse “comercializada” pelas empresas portuguesas (fossem elas públicas ou privadas) o mais depressa e eficientemente possível, não apenas em Portugal, mas no resto do mundo.

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